Além de Toninho Geraes: relembre histórias de gringos que copiaram músicas brasileiras
21/12/2024
Alguns casos não são tratados como plágio. E outros nem tiveram reclamação formal de artistas, mas entraram para o hall de lendas a música. Relembre gringos que copiaram músicas brasileiras
Neste fim de 2024, uma decisão da Justiça brasileira ganhou as páginas internacionais. Isso porque o caso envolve umas das maiores estrelas da música: a cantora Adele.
Lançada em 2015, a faixa "Million Years ago" foi considerada plágio de "Mulheres", música composta por Toninho Geraes. O samba, que se tornou um clássico na voz de Martinho da Vila, foi lançado em 1995, vinte anos antes de "Million Years ago".
Ouça trechos de "MILLION YEARS AGO" X "MULHERES":
Ouça trechos de 'Million years ago' e 'Mulheres'
Depois de um estudo de provas, a Justiça do Rio determinou a remoção da música de Adele das plataformas sob pena de multa diária de R$ 50 mil. A gravadora de Adele nega o plágio.
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Essa não é a única vez que os gringos ficam de olho, de forma consciente ou não, na música brasileira. Alguns casos foram parar na justiça. Mas outros nem tiveram reclamação formal de artistas, embora tenham entrado para o hall de lendas a música. Relembre:
O compositor Toninho Geraes vai processar Adele por suposto plágio da música 'Mulheres' em 'Million years ago'
Reprodução/Facebook Toninho Geraes; Matt Sayles/Invision/AP
"SEVILLE" X "SOMEBODY THAT I USED TO KNOW"
O brasileiro Luiz Bonfá lançou "Seville" em 1967. E em 2011, dez anos após sua morte, o australiano Gotye chegou com "Somebody That I Used To Know". Nela, ele levou os trechos de violão da música de Bonfá para sua parceria com a cantora Kimbra.
Ouça trechos de 'Seville' e 'Somebody that I used to know'
"Somebody That I Used To Know" foi premiada, levou Grammy, bateu recordes e apareceu em primeiro lugar nas paradas musicais de dezenas de países. Meses depois, foi divulgado pela imprensa australiana que, antes mesmo de todo esse sucesso, Gotye havia assinado um contrato com os herdeiros de Bonfá concordando que os royalties da música fossem divididos.
Além disso, o nome de Bonfá passou a aparecer nos créditos dos compositores da canção. Até por esse acerto, o caso não é tratado como plágio.
"WHAT TO DO" X "SABBATH BLOODY SABBATH"
Ouça trechos de 'What to do' e 'Sabbath bloody Sabbath'
Outro caso que já gerou polêmica envolve "What To Do", de Vanusa, e "Sabbath Bloody Sabbath", do Black Sabbath. As duas foram lançadas em 1973, mas a faixa da cantora brasileira saiu primeiro.
Anos depois, algumas páginas internacionais começaram a citar a semelhança das canções e disseram que Ozzy Osbourne poderia ter se inspirado na música.
Mas a própria Vanusa disse que tudo era só uma "coincidência musical" e que estava convencida de que ela não tinha sido copiada pela banda britânica.
"LONDON LONDON" X "CHE SARÀ"
Ouça trechos de 'London London' e 'Che sarà'
Outras duas músicas quase lançadas na mesma época e que levantaram suspeitas de plágio foram "London London", de Caetano Veloso, e "Che sarà", escrita pelo italiano Franco Migliacci.
A faixa de Caetano é de 1970 e foi composta enquanto ele estava no exílio em Londres. De lá, ele enviou a letra pra Gal Costa, que gravou e lançou a música.
O compositor italiano Jimmy Fontana, que sempre se disse um pesquisador da música brasileira, teria ouvido o hit da Gal e se apropriado de parte da melodia. E aí, com a letra de Migliacci, ele escreveu "Che Sarà", que foi apresentada no famoso festival de San Remo, ficando em segundo lugar. Caetano nunca comentou o caso.
"SMOKE ON THE WATER" X "MARIA MOITA"
Ouça trechos de 'Smoke on the water' e 'Maria Moita'
Um outro caso envolve as músicas "Maria Moita", composta por Carlos Lyra e Vinicius de Moraes, e "Smoke on the Water", do Deep Purple.
A faixa brasileira, que é marcada por seu arranjo de sopro, poderia ter sido uma das inspirações para um dos riffs mais conhecidos do rock. Algo que nunca foi investigado a fundo, muito menos comprovado.
O guitarrista do Deep Purple diz que inventou o riff invertendo as notas da quinta sinfonia de Beethoven. Mas a dúvida segue sendo uma grande lenda da música.
"TAJ MAHAL" X "DA YA THINK I’M SEXY?"
Ouça trechos de 'Taj Mahal' e 'Da ya think I'm sexy?'
E um dos casos mais conhecidos de gringos copiando brasileiros envolve o plagiador confesso Rod Stewart.
O cantor inglês levou as batidas de "Taj Mahal", de Jorge Ben Jor, para sua "Da Ya Think I’m Sexy?".
Isso aconteceu depois de ele passar um carnaval no Brasil na década de 1970, época em que "Taj Mahal" estava bombando no país.
Em 2012, Rod Stewart lançou uma autobiografia e contou que "Taj Mahal" invadiu sua memória e emergiu quando ele começou a fazer "Da Ya Think I’m Sexy?". Segundo ele, o que aconteceu foi "puro e simples plagio inconsciente".
Ben Jor chegou a ir atrás de seus direitos, mas a história ficou resolvida com a doação dos lucros obtidos com a música para a Unicef.
"O HOMEM DA GRAVATA FLORIDA" X "A8" (E outras músicas envolvendo Black Eyed Peas e Jorge Ben Jor)
Ouça trechos de 'O homem da gravata florida' e 'A8'
O grupo Black Eyed Peas sampleou três músicas de Jorge Ben Jor em faixas do CD "Behind the front", o álbum de estreia do grupo norte-americano, em 1998. Foram elas:
"Comanche" teria sido sampleada na faixa "Falling Up",
"Cinco Minutos" teria sido usada em "Positivity",
e "O Homem da Gravata Florida", no rap "A8".
Ben Jor nunca autorizou o uso dos trechos de suas músicas. E ele já contou em entrevistas que sequer foi consultado.
Apesar de o brasileiro ter levado o caso para a Justiça, no final, ficou tudo bem entre eles e o cantor até cantou com o Black Eyed Peas durante passagem do grupo pelo Brasil, em um show do Rio de Janeiro, em 2010.
Will.i.am teceu vários elogios ao brasileiro e os dois trocaram mensagens públicas mostrando que ficaram amigos.